domingo, dezembro 10, 2006

Dois legados: Morte e Vida

Notícia de hoje:

Aos 91 anos

Morreu Augusto Pinochet

10.12.2006 - 17h50 Agências


O ex-ditador chileno Augusto Pinochet morreu hoje, aos 91 anos, anunciou o hospital militar onde o general se encontrava hospitalizado após ter sofrido um enfarte do miocárdio, agravado por complicações pulmonares e problemas cardiovasculares causados por hipertensão e diabetes.

Num curto comunicado, o hospital indicou que o estado de saúde de Pinochet piorou subitamente, tendo a equipa médica que o acompanhava decidido transferir o general para a unidade de cuidados intensivos, de onde saído apenas na quinta-feira, quatro dias depois de ter sofrido o enfarte.

O antigo ditador morreu às 14h15 locais (17h15 em Lisboa)."

in: Publico

Para a História, o nome de Pinochet ficará para sempre como sinónimo de 17 anos terror, milhares de mortes e desaparecimentos e a sua morte, antes do veredicto judicial sobre os crimes contra os direitos humanos pelos quais estava a ser julgado, deixará para sempre os familiares das suas vítimas com a sensação de derrota.

Há trinta e três anos, umas semanas após o golpe de estado de Pinochet, morria Pablo Neruda em Santiago do Chile.

A sua morte, impregnada de sentido simbólico, comoveu o mundo. Semanas antes, Salvador Allende, deposto pelo golpe de Pinochet também morrera, provavelmente de suicídio. A tragédia chilena ficava, assim, marcada pelo desaparecimento do poeta que cantou, como ninguém, os prazeres da condição humana: a apreciação das forças elementares da natureza, a entrega às paixões eróticas e espirituais, o gosto por vinhos e comidas e um sentimento de fraternidade para com os miseráveis do seu país e do mundo inteiro.

Em comum com o ditador teve apenas a insuficiência cardíaca. Mas, ao contrário deste, em vez de memórias habitadas por milhares de mortos deixou-nos milhares de páginas pulsantes de vida, amor e coragem.


Aqui está uma apresentação em Power Point com alguns dos seus sábios conselhos.

Seres Humanos precisam-se!

Em 10.12.1948 a ONU aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que consagra os direitos básicos e as liberdades fundamentais de todos os seres humanos, sem distinção de raça, cor, sexo, idade, religião, opinião política, origem nacional ou social, ou qualquer outra. O seu conteúdo distribui-se por um Preâmbulo (reconhece solenemente: a dignidade da pessoa humana, ideal democrático, o direito de resistência a opressão e a concepção comum desses direitos); uma Proclamação e 30 artigos, classificados em cinco categorias de direitos: civis, políticos, económicos, sociais e culturais. Independentemente das concepções naturalistas ou espiritualistas que estejam na base da definição de humano, entende-se que é a dignidade da pessoa humana, tanto na sua condição de indivíduo como na condição de entidade social, que determina a consagração desses direitos.
No entanto, a realidade que nos cerca, e da qual vamos tendo notícia, mostra-nos à exaustão que, apesar das boas intenções, a Declaração Universal dos Direitos Humanos tem sido cada vez mais encarada não só como um bem inatingível, no seu carácter universal, mas como uma “arma de arremesso” para branquear uma série de acções que resultam na violação dos direitos fundamentais nela consagrados.
A pretexto do direito à liberdade, deixa-se que mega-empresas persigam exclusivamente a obtenção de lucro, condenando milhares de seres humanos à exclusão social e saqueando os recursos naturais com uma voracidade insustentável, comprometendo os direitos das gerações futuras.
A pretexto do direito à saúde, registam-se patentes de plantas medicinais, tornando propriedade privada da indústria farmacêutica um bem anteriormente acessível a todos, deixando que esta se transforme num direito exclusivo de tem posses.
A pretexto do direito à propriedade, deixa-se que a riqueza mundial se concentre, apenas, em 2% da população do mundo e que sejam apenas os habitantes dos países desenvolvidos a beneficiar dela em pleno.
A pretexto dos direitos à informação e protecção, torturam-se seres humanos para obter argumentos que permitam justificar invasões e massacres, assassina-se gente “incómoda”, veda-se a entrada a emigrantes que só procuram um pouco de dignidade.
Estes são apenas alguns exemplos, pois a lista de atentados aos direitos humanos, que se cometem ainda hoje, mesmo pelos países membros da ONU que já ratificaram a declaração de 1948 e as outras que dela derivam, é imensa e não caberia aqui.
No entanto, toda a gente sabe que, para tornar efectivos os Direitos Humanos, na sua dimensão universal, as Nações Unidas devem, imperativamente, pôr um termo ao subdesenvolvimento, à miséria, à exploração humana, à escravatura moderna, às guerras do petróleo, ao saque dos recursos naturais, à violência doméstica, ao abuso de crianças, etc, etc. Então porque é que continuamos a assistir a este estado de coisas? Será a economia assim tão incompatível com o humanismo como se tem verificado até agora?
Com efeito, se a Declaração Universal proporcionou a certeza, segurança e possibilidade dos direitos humanos, não se concretizou ainda a sua eficácia, pois esta continua dependente da boa vontade dos povos e dos seus dirigentes. Assim, tudo indica que, apesar de ter sido elaborada por seres humanos e para seres humanos, a Declaração Universal tem sido, na maior parte das vezes, evocada mais para garantir pretensos "direitos" de predadores sobre as "suas" presas, justificando toda a espécie de abusos de poder, do que para conferir dignidade humana a estas últimas. Daí que, 58 anos após a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, continuemos à espera que a humanidade, no seu todo, se torne digna dessa designação para que esses direitos se tornem efectivos. É caso para dizer: seres humanos – precisam-se.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Para quando a globalização do acesso aos medicamentos?

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Linguistas de Bancada

Como se não bastasse a quantidade de "árbitros" que brotam, por geração espontânea, durante qualquer campeonato de futebol, agora também temos uma explosão demográfica de linguistas improvisados, a discutir a legitimidade da aplicação da TLEBS. Creio que nunca uma questão científica e pedagógica terá sido, nos últimos anos, discutida com tão grande entusiasmo clubístico como esta, nos nossos órgãos de comunicação social. E tem dado origem a verdadeiras "revelações". Descobrimos, por exemplo, que tanto Miguel de Sousa Tavares como o Ricardo Araújo Pereira, dos "Gato Fedorento" têm uma vocação secreta para a investigação linguística. E o facto de esta polémica ter tomado as proporções que está a tomar é também revelador do universo surrealista em que estamos mergulhados. Primeiro, porque, para ser levada a sério, teria de ter começado há dois anos e não apenas agora. Segundo, porque me parece que, subitamente, toda a gente se transformou em linguista. Terceiro, porque, à medida que vou lendo os artigos desses "linguistas de bancada", cada vez me convenço mais de que querem transformar um assunto científico num problema político. E o pior é que estão a conseguir, pois a Ministra da Educação já afirmou recentemente, numa entrevista, que as reclamações deviam ser endereçadas ao anterior Governo, que tinha publicado o Decreto...
Mas agora a gramática também está ao serviço da oposição?!

As questões linguísticas levantadas pela TLEBS só são novidade na sua aplicação aos programas dos ensinos básico e secundário. De resto, trata-se do culminar de um trabalho de investigação iniciado há mais de 15 anos e que ainda se encontra em curso (alguma da nomenclatura está ainda em fase de aperfeiçoamento, bem como a base de dados que os autores divulgaram). É óbvio que qualquer professor que tenha feito a licenciatura numa das variantes de Línguas e Literaturas Modernas já teve contacto com a Linguística Descritiva durante a sua formação e estará, por isso, mais à vontade para compreender o alcance da TLEBS. A resistência vem, sobretudo, daqueles cuja formação académica não contemplou esse tipo de estudo. No meu caso pessoal, a dificuldade que senti, nos primeiros anos de leccionação, residiu precisamente no facto de ter aprendido, durante a minha formação académica, um tipo de análise linguística que não podia aplicar na prática lectiva, por estar desfasada dos programas curriculares do básico e secundário, que privilegiavam a gramática tradicional e normativa. Ora, se a língua é, pela sua natureza, um sistema dinâmico, a gramática tradicional e normativa depressa se torna obsoleta e incapaz de dar conta de todos os fenómenos que nela ocorrem. Daí a legitimidade da linguística descritiva.

O que mais me espanta é o facto de ser precisamente um assunto em que a investigação universitária se aproxima da realidade quotidiana dos falantes que serve de rastilho a toda esta polémica. Mais: são os mesmos que bradam contra o desfasamento entre o saber académico e a vida real que clamam, agora, contra a aplicação prática do resultado da investigação linguística ao discurso quotidiano dos falantes (e não apenas aos exemplos colhidos da literatura). E com argumentos do mais disparatado que se pode imaginar, como o de que, supostamente, se quer obrigar as "pobres crianças" a decorar todas as classificações dos nomes, etc, etc, como se a linguística descritiva usasse os mesmos métodos de "análise" da gramática normativa, ou como se os métodos pedagógicos de hoje fossem os mesmos de há 50 anos!

Será que Vasco Graça Moura, Helena Matos, Miguel Sousa Tavares, entre outros, também se vão dar ao trabalho de escrutinar os programas de Matemática, Ciências Físico-Químicas ou de Biologia e bradar contra a "tortura" que é ensinar às "pobres crianças" aqueles nomes científicos "rebarbativos" que lá encontramos?

Para uma visão panorâmica deste assunto, ver em:

http://ciberduvidas.sapo.pt/controversias/311006_22.html

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