sexta-feira, março 28, 2008

Uma pedrada no charco

Muito se tem debatido nos meios de comunicação social sobre o problema da indisciplina e violência nas escolas, como se fosse uma grande novidade! E tudo porque, numa aula de francês de uma "pacata" escola do centro do Porto, um "braço de ferro" entre uma aluna e a professora foi oportunisticamente gravado por um coleguinha da primeira e divulgado no youtube...

Terá o "cineasta" repentino pensado que aquilo era um grande feito da colega, provavelmente, que merecia ser aplaudido por uma plateia mais vasta...

Ainda não tinha visto as notícias sobre este caso, quando ouvi, à saída do Metro em Entrecampos, uma efusiva discussão, entre os trabalhadores das obras ali perto que tomavam a sua “bica”, sobre o assunto. Saltou-me ao ouvido a frase: “Os professores sempre levaram porrada dos alunos e só agora é que aparece na televisão?”
Fiquei a pensar na sorte que tinha por nunca, nos 18 anos em que dou aulas, me ter acontecido tal coisa (apesar do meu metro e meio..). No entanto, conheço casos de violência relatados por colegas e que não foram só exercidos sobre professoras.
Quem não se lembra, também, daquela reportagem sobre umas aulas gravadas numa escola, salvo erro, do Lumiar? Quem não se lembra das notícias sobre a professora que foi agredida pela mãe de uma aluna? No entanto, nem essas lamentáveis cenas fizeram correr tantos rios de tinta nem suscitaram tantos debates como este vídeo gravado no Carolina Michaelis, que uma aluna entrevistada afirmava ser uma escola “de élite”[sic]…
Penso que as pessoas só acordaram para este problema precisamente por isso: porque ele se deu numa escola que não fica num qualquer bairro degradado nem numa zona periférica, mas sim numa que, embora sendo pública, tem uma certa imagem de prestígio social.
Quando nos jornais e noticiários televisivos se iam publicando, de vez em quando, algumas notícias sobre violência em escolas suburbanas o caso não merecia mais do que meia dúzia de comentários. E porquê? Porque, em nome de um populismo cada vez mais exacerbado, se tende a avaliar com mais condescendência os casos de indisciplina e violência quando estes estão, ainda que indirectamente, associados a alunos provenientes de meios sócio-culturais mais desfavorecidos.
Por isso é que este vídeo, agora, caíu como uma pedrada no charco da pretensa quietude de uns “brandos costumes” que nunca existiram e, de repente, toda a gente percebeu que o assunto é grave, quando já o era há muito tempo.
E, claro, não faltaram os comentadores “de bancada” a opinar sobre o que é que a professora deveria ter feito, ou o que é que a escola deve fazer, etc, etc.
É óbvio que, passado o “susto” vai ficar tudo na mesma. Os alunos foram transferidos, pois, para repetirem a “gracinha” provavelmente numa escola suburbana, onde cenas dessas são tão corriqueiras que nem se tornam notícia…

E tudo regressará à “paz dos deuses”….

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