sexta-feira, setembro 29, 2006

Azul XXI




Foto: Marcelo Reis

terça-feira, setembro 12, 2006

"Ligações perigosas"

Para quê, perder tempo com "teorias da conspiração"? Segundo um artigo de Uzine Chris (http://globalresearch.ca/articles/CHR205A.html), o grupo Carlyle é uma companhia de investidores privados que gere perto de 13 milhões de dólares de investimentos em diferentes empresas de produção de armamento, de telecomunicações e de laboratórios farmacêuticos. As quatro empresas mais importantes deste grupo são: Empi, Inc (medicamentos e produtos médicos), Medpointe, Inc (medicamentos e preservativos), United Defense Industries, Inc (tanques e veículos blindados para o exército americano e para exportação) e United States Marine Repair (navios de guerra não nucleares). Isto faz do grupo Carlyle um dos principais fornecedores do Pentágono e actualmente controla mais de 160 sociedades em 55 países, entre os quais a França. Franck Carlucci, curiosamente, antigo secretário de estado da Defesa no governo de Ronald Reagan, é o grande patrão do grupo. Igualmente curiosa é a relação de Bush- pai, John Major, Karl Otto Pohl (ex-presidente da Bundesbank), Fidel Ramos (ex-presidente das Filipinas), Artur Levitt (ex-presidente da Security Exchange Commission) e James Baker (ex-secretário de estado de Bush sénior) com este grupo financeiro, como agentes de relações públicas. Mais fantástica ainda, é a relação da família Bin Laden com a Carlyle: à data dos atentados em Nova York e Washington, a família Bin Laden tinha 2,02 milhões de dólares investidos no grupo, até em 26 de Outubro de 2001 um despacho lacónico da agência Associated Press dar conta da retirada desse capital, na sequência de um anúncio publicado a 27 de Setembro do mesmo ano no Wall Street Journal, sobre a participação dos Bin Laden no grupo Carlyle. Apesar do estado de choque geral na sequência dos atentados, os media, na altura, não deram importância ao assunto. É certo que Ossama Bin Laden cortou relações com a família, por isso não é legítimo envolvê-la no financiamento da Al-Qaeda. No entanto, também é certo que nem todos os membros da família de Ossama Bin Laden se afastaram dele, o que torna o caso um tanto nebuloso. Certo é que os investidores no grupo Carlyle conseguem beneficiar de um retorno de 34% por ano, o que não admira, dada a procura de material bélico por parte do exército americano, que em 2002 pediu ao Congresso que libertasse nada mais nada menos que 500 milhões de dólares para a aquisição de tanques Crusader – fabricados por uma das empresas do grupo Carlyle –, a pretexto da luta contra o terrorismo. Além disto, tanto a diversificação de actividades do próprio grupo, como os contactos que tem quer a nível nacional quer internacional, como a sua "rede" de negócios, institui uma “aliança”, no mínimo, suspeita e perigosa entre a indústria farmacêutica, as guerras do petróleo e os media, que faz da "teoria da conspiração" uma banalidade pueril.

O melhor tributo ao 11 de Setembro

Mais seguro para quem?

Segunda-feira, 11 de Setembro de 2006

Mais um "aniversário" - o quinto - dos atentados de 2001 ao Word Trade Center e Pentágono. Mais uma vez o mundo assistiu à repetição das imagens dos aviões a embater nas torres-gémeas e mais uma vez se passou a ideia de que esses atentados legitimam as guerras que se seguiram - mesmo que em nenhuma delas se tenha capturado a figura icónica da Al-Qaeda - Ossama Bin Laden - que nos tem "brindado" com umas "aparições" esporádicas, a lembrar ao mundo que ainda anda "a monte" algures, entre o Paquistão e o Afeganistão, apesar dos esforços da administração Bush em "procurá-lo" em sítios improváveis, como o Iraque.

Ninguém duvida de que a tragédia de há cinco anos atrás representou uma viragem no destino da humanidade, como ninguém duvida de que os símbolos do poder americano eram também ícones representativos de uma certa forma de estar que o "mundo ocidental" se habituou a ter como adquirida: a associação entre o poder militar e o da alta finança. Mas o Word Trade Center representava mais do que o poder económico de uma América que todos querem imitar (inclusivé os magnatas muçulmanos). Nessa espécie de "babel" onde estavam sediadas muitas empresas internacionais, as vítimas, por isso mesmo, não foram "apenas" cidadãos nascidos nos EUA, embora estes tenham constituído a maioria dos que pereceram na derrocada das torres. Daí que o 11 de Setembro não se possa traduzir, de forma simplista, como um ataque "islâmico" contra a "civilização ocidental". Muito mais do que isso, parece representar, também, a derrocada de valores que essa "civilização ocidental" levou séculos a construir, tais como os direitos humanos, as democracias, a liberdade, a cidadania, o cosmopolitismo...

Após o 11 de Setembro de 2001, para uma boa parte da opinião pública, o conceito de "terrorismo" passou a estar associado, quase exclusivamente à jihad islâmica contra o "ocidente" e à teoria do "choque de civilizações". Frases como "quem não é por nós [EUA] é pelos terroristas [islâmicos]" ditaram - e ainda ditam - a política externa da administração Bush. A repetição exaustiva das imagens do embate dos aviões nas torres mantém o "ocidente" alerta (quando não é anestesiado por overdose ), embora, quer antes quer depois desta data, os atentados da Al-Qaeda não se tenham ficado por aí, como todos sabemos. Com efeito, desde 1993 até aos dias de hoje podem-se contabilizar dezenas de atentados, em países como França (26/2/1993), Arábia Saudita (25/11/1995; 25/7/1996; 12/5/2003; 8/11/2003; 29 e 30/5/2004;6/12/2004), Tanzânia (7/8/1998), Quénia (7/8/1998; 28/11/2002), Iémen (12/10/2000; 6/10/2002), Tunísia (12/4/2002), Paquistão (8/5/2002), Indonésia (12/10/2002; 5/8/2003; 9/9/2004; 10/10/2005), Marrocos (16/5/2003), Turquia (15 e 20/11/2003), Espanha (11/3/2004), Egipto (8/10/2004; 23/7/2005), Filipinas (14/2/2005), Inglaterra (7/7/2005), Jordânia (9/11/2005) e Iraque ( onde desde 1/2/2004 os ataques terroristas da Al-Qaeda ou entre grupos sunitas e xiitas se tornaram diários até hoje).

Além destes atentados (é curioso como só os perpetrados nos países "ocidentais", ou contra interesses "ocidentais" são visionados até à exaustão), temos as declarações mais recentes de Al-Zawahiri, divulgadas pela Al-Jazeera, a saber, “You gave us every legitimacy and every opportunity to continue fighting you… You should worry about your presence in the [Persian] Gulf, and the second place you should worry about Israel”.

Apesar disso, neste nosso rectângulo à beira-mar plantado, alguns comentaristas exibiam declarações como "O mundo está mais seguro depois do 11 de Setembro" (António Vitorino).

Mais seguro?!

É certo que os serviços de segurança, tanto nos aeroportos como nos edifícios públicos e centrais de transportes urbanos estão mais visíveis e operantes, nalguns casos até à paranóia (lembrar a morte "acidental" do turista brasileiro em Londres e alguns alarmes injustificados). É certo que as comunicações oficiais e privadas entre cidadãos são passadas a "pente fino". É certo que as fronteiras estão menos permeáveis, as bagagens são vasculhadas, as contas também, os movimentos de cidadãos seguidos (ou mesmo restringidos) e que o mundo "ocidental" assumiu contornos orwellianos, sem que ninguém se atreva a queixar-se, porque o medo de que as explosões se repitam é mais forte do que o desejo de privacidade e liberdade. Será por isto que António Vitorino afirma que "cinco anos após os atentados do 11 de Setembro o mundo está mais seguro [...] porque está «mais consciente da natureza da ameaça» terrorista e da sua «vocação destruidora», porque «aumentou a cooperação internacional, a nível político e dos serviços de informações» e porque «Muitos atentados foram evitados»(Lusa)? Se assim é, como entender esse optimismo, se ele próprio admite " que «os atentados em Nova Iorque e Washington tiveram um efeito multiplicador» e que «neste sentido a ameaça [se] ampliou»? Como entender, nesse contexto, o seguinte alerta: «nesta luta (contra o terrorismo), as sociedades abertas que querem continuar abertas têm vulnerabilidades»? (idem)

Não há dúvida de que esta última afirmação de A. V. abre um pressuposto alarmante quanto à hipótese de, a pretexto da luta contra o terrorismo, se estar a caminhar a passos largos para a falência da democracia (ou democracias, já que não existe modelo único, a despeito dos esforços dos EUA para "exportarem" o seu).

Em "Depois do 11 de Setembro: um liberalismo pós-democrático" – artigo de Manuel Villaverde Cabral (do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa) publicado no Le Monde Diplomatique (ed. portuguesa) em Novembro de 2004, esta hipótese apresenta-se bem plausível: " não é impossível, com a subida da parada político-militar que representou a resposta americana ao ataque cego e mortífero do terrorismo islâmico, completamente desligado como este está das lutas políticas e clássicas por mais democracia e mais bem-estar social, é antes bem provável que tenhamos entrado definitivamente numa era pós-democrática", na qual a acção política interessará apenas a um "cartel de partidos empenhado na perpetuação dos sistemas partidários vigentes como condição da sobrevivência dos membros do cartel enquanto «órgãos burocráticos do Estado» financeiramente mantidos por este".

Com a falência das democracias, entram também em derrocada, (tal como aconteceu nas torres-gémeas)certos direitos que o "mundo ocidental" se habituou a tomar como adquiridos. Por exemplo, Charlote Buch, directora do Center for Women's Global Leadership (EUA), num artigo intitulado "O 11 de Setembro, Direitos Humanos e as Mulheres: futuros desafios",associa as reacções do "mundo ocidental", após o 11 de Setembro, à perda de direitos humanos fundamentais:
“Os eventos do 11 de Setembro deveriam ter gerado tentativas de abordar as ameaças reais aos direitos humanos das mulheres colocados pelo fundamentalismo, terrorismo e conflito armado em muitas faces. Ao invés disso, a ocasião foi utilizada para demonizar o “Outro Islâmico” e justificar a militarização crescente da sociedade e a redução das liberdades civis.”

Longe de ser apenas especulação de quem não aposta na "solução Bush" para o problema do terrorismo internacional, estas afirmações são corroboradas por uma série de prisões arbitrárias e actos de tortura sobre prisioneiros quer em Guantanamo, quer em Abu-Grahib. Além destes, a existência de prisões secretas da CIA nada abona em favor do conceito de "democracia ocidental" e muito menos da bipolarização simplista que levou George Bush a traçar o "eixo do mal" apenas sobre países islâmicos ligados à produção de petróleo. Com efeito, só este ano, a 6 de Setembro, o governo americano reconheceu a existência de prisões secretas mantidas pela CIA a pretexto da guerra contra o terrorismo. Espalhados um pouco por todo o mundo, embora os países europeus suspeitos de as acolherem neguem a sua existência, os black sites (designação pela qual são conhecidas) são frequentemente palcos de tortura aos prisioneiros, com o objectivo de se obterem informações que provem a sua ligação a grupos terroristas islâmicos.
Como se isso não bastasse, temos o Relatório Oficial da Comissão Nacional sobre os Ataques Terroristas contra os EUA (2004): num denso volume de 600 páginas, a comissão que elaborou o relatório fornece directrizes políticas que vão ao encontro das que o governo americano já pretendia, com uma ou outra mudança estrutural de cariz burocrático. O resultado é uma “carta branca” à administração Bush para responder à violência extremista de alguns grupos muçulmanos com ataques brutais sobre os países suspeitos de os financiar, sem olhar aos “danos colaterais” (leia-se: civis mortos nos raides e bombardeamentos "inteligentes") que, desde o 11 de Setembro de 2001 até agora, já ultrapassaram em muito as 3000 vítimas contabilizadas nos ataques aos EUA.

Com tudo isto, ainda há quem afirme que depois do 11 de Setembro "o mundo se tornou mais seguro"! Para quem?!

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