terça-feira, outubro 30, 2007

GLOBALIZAÇÃO

É um poema de Mia Couto, colhido do livro idades,cidades, divindades, editado pela Caminho, 2007:


Globalização

Discutiam os camponeses

Vi uma pedra fumando água, disse um.
Impossível, ripostou outro.
Aqui só os rios é que bebem fumos.

O geólogo ouviu e disse: é preciso
desentortar as palavras dessa gente!


O antropólogo argumentou
em defesa de uma outra lógica,
pura e mágica,
não tocada por ocidentais impurezas.

O político chegou e disse: é preciso
despalavrar os que sofrem de excesso de alma!


O que fizeram os camponeses?

Venderam
falsas amostras
da pedra mágica ao geólogo.

Cozinharam
umas tantas ingenuidades
para encantar o antropólogo.

Por fim,
filiaram-se no partido político
que mais luta contra o campesinato.


Mia Couto, Maputo, 2006.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Uns... E outros

Vejam o que acontece a algumas pessoas quando outras estacionam mal os carros:



segunda-feira, outubro 15, 2007

Cobaias à força

Apesar do deslumbramento provocado pelo desfile de tantas eminências do PSD pelas ruas de Torres Vedras no passado dia 13 de Outubro, apesar do apelo do sol convidar a uma escapadela para as praias, apesar da feira rural ter ocupado demasiado os agricultores e apesar do futebol ter agarrado ao ecrã os "desportistas" de sofá, ainda assim a Sessão de Esclarecimento Sobre Alimentos Transgénicos, conseguiu ter a sala razoavelmente composta, tendo-se contabilizado 46 pessoas na plateia, que aguentaram, estoicamente, a complexidade científica e conceptual de algumas exposições. E porquê? Essencialmente, porque queriam saber, porque não se deixaram "embalar" pela pretensa segurança e necessidade da manipulação genética dos produtos destinados à alimentação, difundida pelos meios de comunicação social nem pelos lindos discursos dos políticos afectos aos interesses económicos das multinacionais que produzem as sementes (e os pesticidas e os medicamentos). Essencialmente, porque entendem que, antes de se embarcar em autorizações para a "libertação deliberada" de milho transgénico em Portugal (projectos da Monsanto e da Bayer para Rio Maior, Salvaterra de Magos e Alcochete - a iniciar já neste ano) deve-se analisar seriamente todas as suas implicações e riscos, quer para a saúde pública quer para o ambiente, quer ainda para as outras culturas não geneticamente modificadas, como o caso das convencionais e biológicas - e isso o Governo Português não está a acautelar! Essencialmente, porque, como consumidores, querem ver os seus direitos respeitados - nomeadamente o direito à escolha - e essa garantia não é dada pela legislação vigente quanto à rotulagem dos produtos que chegam aos supermercados, cantinas e restaurantes.

Os meus parabéns a esse pequeno-grande grupo de cidadãos!

Muito resumidamente, eis alguns dos principais tópicos das comunicações apresentadas (as iniciais identificam os autores cujos nomes aparecem no primeiro tópico):

- A manipulação da Biodiversidade tem sido sempre feita a favor dos humanos, mas não tem existido monitorização suficiente dessa manipulação. (Helena Freitas)
- Em Portugal, o banco agro-ecológico está dependente da carolice de alguns, não havendo (à semelhança dos EUA e GB) um banco de sementes sobre a variedade da flora nativa - por isso, em caso de contaminação da nossa flora por OGM Organismos Geneticamente Modificados) será impossível a recuperação das plantas nativas. (H.F.)
- Portugal não precisa de OGM, nem nos convém ficar dependentes da importação das sementes GM por incapacidade técnica e económica de as produzirmos. Isso seria o descalabro económico. (H.F.)
- Dizer que os OGM vêm responder às necessidades alimentares e acabar com a fome no mundo é uma falácia, porque os países subdesenvolvidos não têm possibilidade de produzir as sementes transgénicas. Vão ter de as comprar! (H.F.)
- A legislação actual revela-se também falaciosa, ao atribuir limites de segurança para o cultivo de plantas transgénicas, pois o pólen e os ventos não conhecem fronteiras. (H.F.)
- Não tem havido interesse, por parte das multinacionais (Monsanto, Bayer, Syngenta, etc) em sujeitar a análise dos seus produtos geneticamente modificados a laboratórios independentes, antes de os colocar no mercado, porque o seu lucro estará sempre assegurado no caso de estes se revelarem nocivos. (José Alfredo)
- As empresas que produzem as sementes (por exemplo do milho BT - já com insecticida incorporado - ou do milho resistente a pesticidas)são as mesmas que produzem medicamentos. Em caso de desastre comprovado na saúde pública, a longo prazo, aparecerão com as panaceias para curar as doenças que ajudaram a criar - continuando assim a garantir o seu lucro. (J.A.)
- Se na agricultura convencional os produtores podem guardar as sementes de um ano para outro, seleccionando as melhores, na produção de milho e soja transgénicos as sementes têm de ser compradas todos os anos às empresas que as produzem, porque estas são patenteadas - e patentear a Natureza é um crime. (J.A)
- Dizer que um produto é seguro apenas porque, a curto prazo (os OGM começaram a ser introduzidos no mercado há pouco mais de 10 anos) ainda não se verificaram mortes humanas (ignorando alguns testes laboratoriais, bem como acidentes reais, que comprovaram a toxicidade desses produtos para animais de menor porte) não é garantia de segurança para o consumidor. (Gualter Baptista)
- Ao longo da História, muitos cientistas já têm garantido a segurança de produtos e de procedimentos (caso da utilização de cadáveres animais na produção de rações para animais [herbívoros ruminantes] - que deu origem à BSE) que mais tarde se vieram a verificar nocivos. (G.B.)
- A engenharia genética não é uma ciência exacta e as mutações genéticas a que poderá dar origem são imprevisíveis. (G.B.)
- A maior parte dos estudos independentes que já comprovaram a toxicidade hepática e renal (em ratos de laboratório) dos OGM tem sido abafada e os cientistas que têm dado a cara são despedidos e impedidos de prosseguir os seus estudos. (G.B.)
-É impossível a coexistência entre culturas transgénicas, convencionais e biológicas, por causa da contaminação. (G.B.)
- A situação actual, criada pela urgência das empresas produtoras de OGM em escoar os seus produtos para o mercado, bem como a legislação criada pelos Governos dos mais diversos países (que levam a autorizações às cegas) não se tem regido pelo princípio da precaução. (Nilton Teixeira)
- A maioria das pesquisas é financiada pelas empresas que produzem as sementes transgénicas. (N.T.)
- Estamos a ser cobaias sem darmos autorização. (N.T.)
- Pensamos que somos livres, mas o que se passa, actualmente, é que não nos está a ser concedido o direito à escolha. (N.T.)
- A Organização Mundial de Saúde publicou um estudo, em 2005, definindo princípios éticos a ter em conta: - o princípio da sustentabilidade; - o princípio da equidade social; - o princípio de observância das necessidades regionais. (Clara Garcia)
- O recurso às novas tecnologias na alimentação e na saúde politizou-se e essa dominância do poder político, com o económico por detrás, não nos deve descansar. (C.G.)
- A saúde e a alimentação são bens públicos [direitos de todos] e não devem estar sujeitos, exclusivamente, aos interesses privados. (C.G.)
-A proliferação de OGM, do modo como está a ser feita, acontece a maior parte das vezes à revelia dos interesses (e do conhecimento) dos cidadãos que, muitas vezes têm dificuldade em associar-se e reivindicar os seus direitos. (C. G.)
- Devemos exigir a independência da investigação sobre OGM e informação correcta. (C.G.)
- Não é fácil cultivar e viver da agricultura. (Maria Trindade)
- Há financiamento do Governo para jovens agricultores, mas que interessa não é o Governo dar dinheiro aos agricultores, mas sim verificar como é que esses subsídios são aplicados. (M. T.)
- Quando se quer converter um campo de agricultura convencional em agricultura biológica é preciso esperar 2 anos e muitas pessoas não conseguem fazê-lo, maso problema principal não é os agricultores terem de esperar esses 2 anos. O problema é mudar a cabeça. As pessoas não querem esperar.(M.T.)

Pelo exposto, torna-se urgente pressionar o Governo a agir mais a favor dos cidadãos do que dos interesses das empresas multinacionais, à semelhança do que alguns países europeus já fizeram, como o caso da Hungria, Grécia, Polónia e, mais recentemente, a Itália - que rejeitaram o cultivo de milho transgénico à revelia das directivas europeias.

Torna-se urgente, também, promover o debate público sobre este assunto, de modo a que os cidadãos não sejam manipulados pelos interesses de umas poucas empresas.

É urgente que os consumidores se organizem e façam valer o seu direito a uma informação honesta e credível, de modo a poderem escolher livremente.

A questão que se coloca é: quem vai escolher um alimento transgénico (ou contendo transgénicos) de livre vontade? As empresas produtoras de OGM sabem muito bem que nenhum consumidor o vai fazer. Por isso agem subrepticiamente, manipulam a opinião pública, escondem dados importantes para garantirem autorizações dos Governos para a implementação de OGM. A contaminação de culturas não transgénicas por OGM já é um facto. A morte de animais por terem ingerido OGM também. No entanto, parece que ninguém consegue travá-los.

Mas não podemos deixar que façam de nós cobaias à força...

domingo, outubro 07, 2007

Alimentos Transgénicos

Este blogue tem estado um tanto abandonado desde Maio, por motivos de saúde (ou falta dela) da escrevinhadora. Embora ainda em recuperação (que tem corrido dentro do previsto), interrompo aqui a "quarentena" para divulgar uma actividade a decorrer em Torres Vedras, no próximo Sábado, que é (ou deverá ser) do interesse de todos:



SESSÃO DE ESCLARECIMENTO SOBRE:



ALIMENTOS TRANSGÉNICOS



- O que são alimentos transgénicos?
- Onde se encontram e porquê?
- Quais os possíveis riscos para o futuro?
- Como evitá-los?


Tentar-se-á responder a estas e outras questões no dia:


13 de Outubro de 2007

às 16 horas

Auditório da Câmara Municipal de Torres Vedras



Av. 5 de Outubro


Venha saber a outra versão da história.



Painel de convidados:


Ana Sofia Pacheco – Médica de medicina chinesa (a confirmar)
Clara Garcia – Médica de saúde pública
Gualter Baptista – Representante do GAIA (Grupo de Acção e Intervenção Ambiental)
Helena Freitas – Prof.ª Catedrática do Dep. de Botânica da Universidade de Coimbra
João Vieira – Agricultor convencional (a confirmar)
Maria da Trindade – Agricultora biológica

Help Darfur