domingo, janeiro 14, 2007

IVG a votos...

Dia 11 de Fevereiro, os portugueses vão ser chamados a pronunciarem-se sobre a legalização da Interrupção Voluntária da Gravidez. Com isto, estarão a decidir se, doravante, as mulheres que decidirem abortar, até às 10 semanas, poderão fazê-lo nos hospitais, com a segurança necessária, ou se deverão continuar a fazê-lo clandestinamente, correndo o risco de morrer, de ser presas (ou no mínimo enxovalhadas publicamente).

Infelizmente, mais uma vez vamos assistir a uma campanha de contornos carnavalescos sobre um assunto privado. Ruído, ruído e mais ruído...

Mas porque é que este referendo tem de ser "partidarizado", se o assunto de que se está a tratar tem que ver com uma decisão da consciência íntima de cada um? A explicação estará no facto de haver indecisos? Estará no facto de haver, ainda, quem não tenha pensado no que faria se se visse na situação de uma gravidez indesejada, e nas condições que desejaria ter para o caso de a decisão ser abortar? Mas há ainda, neste país, quem não conheça uma amiga, uma irmã, uma tia, etc, que não tenha passado por esse problema? Para quê estes carnavais de campanhas "pró" e "contra", com cartazes, bandeirinhas, tempos de antena e eventuais "comícios"? Estamos a eleger alguém?!

Não seria muito mais proveitoso organizarem-se grupos de reflexão nos locais de trabalho, nas escolas, nas paróquias, nos clubes, nos Centros de Saúde, nos "media" (independentemente das decisões finais de cada um) sem se estar, à partida, a manipular opiniões? Se o problema é a falta de esclarecimento quanto aos meios de planeamento familiar mais eficazes, então esclareçam-se as pessoas de uma vez por todas, dêem-se-lhes os apoios materiais (pílulas, preservativos...) que forem necessários nos Centros de Saúde e façam-se aulas de Educação Sexual a sério nas escolas. Se o problema é a sujeição das mulheres a uma "doxa" de pendor machista, então mostre-se-lhes que elas são cidadãs de pleno direito em todos os aspectos da sua vida, todos os dias, até que a sociedade se convença disso.

No anterior referendo, sobre o mesmo assunto, venceu o "não", cujos "partidários" advogavam, entre outros argumentos, o incremento de apoios eficazes às mulheres que se vissem na situação de ter de levar por diante uma gravidez não desejada...
Onde estão eles? Cobrem todo o país?
Por sua vez, os "partidários" do "sim" também esgrimiram, como argumento, a necessidade de aulas de Educação Sexual nas Escolas, de distribuição gratuita de preservativos, etc, etc.
Onde estão essas medidas? Existem?
Mas porque é que só se "lembram" destas coisas quando estamos em vésperas de referendo?

Quando as decisões são políticas, ou politizadas, dá nisto: fala-se muito, no calor da campanha, mas de concreto, nada se faz quando chega a hora de arrumar as bandeiras e entrar na vida real...

Sessões de esclarecimento, com serenidade, sem manipulações nem sondagens, seriam muito mais úteis para que as pessoas pudessem votar, em consciência e com a maturidade necessária, na opção com a qual se identificam mais. Só assim as pessoas, na situação concreta de colocar a cuz, poderiam ouvir a sua voz interior, em vez das ameaças de excomunhão proferidas pelo padre da paróquia, em vez da histeria das beatas, em vez das generalizações dos políticos de esquerda...
Em todas as campanhas há "tiros no pé": exaltações, argumentos apressados, incoerências...

Espero que alguém, ao menos, tenha aprendido, com o fiasco do outro referendo, a refrear os ânimos. Mas tendo em conta o que vai pelos "media", temo que o saldo desta que se segue não seja melhor, quer para os "partidários" do "sim" quer para os "partidários" do "não". Algo me diz que o que poderá resultar disto tudo é uma tremenda abstenção...

Quanto a mim, quem me conhece já sabe que só voto nos referendos...

sábado, janeiro 13, 2007

A Selva do Paraíso

Eles vêm aos milhares. Chegam à Europa, clandestinamente, após uma verdadeira odisseia por mar ou pelo deserto, à mercê de oportunistas, que lhe roubam todas as economias de anos, ou das intempéries, que roubam, a muitos, a vida. Embarcações precárias a abarrotar de miseráveis farrapos humanos à procura de um pouco de dignidade.

Outrora, os seus países de origem fizeram a prosperidade da Europa, quando esta decidiu ir à "descoberta" do mundo. A mesma Europa que hoje, assim que os "descobre" a tentar passar as suas fronteiras, os mete em "campos de acolhimento", que de "acolhimento" só têm o nome, a fim de serem repatriados. Quem os conhece, já os baptizou de "Selva". Espanha, Itália, França fazem gala em possuir destes centros, rodeados de muros e arame farpado. Sem refeitórios nem instaçações sanitárias condignas, ali ficam meses, às vezes até um ano ou dois, centenas destes "deserdados da sorte" até que os processos burocráticos cheguem ao seu termo. Vidas suspensas por uma lei, que o "paraíso" criou, numa espécie de "terra de ninguém" onde, dizem, prestar cuidados de saúde essenciais para que esses miseráveis possam ser devolvidos aos seus países de origem, onde os espera a fome e a vergonha de não terem conseguido concretizar o sonho de prosperidade numa Europa que vêem, lá de longe, a engordar cada vez mais, a consumir cada vez mais recursos, numa voracidade predatória insaciável...

Os que conseguem escapar à vigilância dos polícias de fronteira, encontram outra selva, nas ruas do "paraíso". As mesmas ruas que outros, antes deles, asfaltaram, nos mesmos prédios que outros, antes deles, construíram, nas mesmas pontes de onde outros, antes deles, caíram enquanto trabalhavam em condições precárias por um magro salário. Quando não são os patrões a explorar a sua deplorável condição de ilegais, são as máfias dos países de origem que os cercam, cobrando a dívida da viagem. Depois, vêm as suspeitas do costume - associação criminosa, actividade terrorista, intromissão nos assuntos do país, costumes diferentes - como se antes deles o "paraíso" nunca tivesse conhecido o crime e a violência.

E o "Paraíso" transforma-se num "Inferno"...

Mas nas altas cúpulas das relações internacionais entre as elites do poder, há protocolos de pseudo-ajuda, relações diplomáticas, sorrisos para a fotografia, estatísticas do FMI... e mais uma deslocalização de uma multinacional, para continuar o saque...

Em Portugal, da "Lei de entrada, permanência, saída e expulsão de estrangeiros" depreende-se que os "suspeitos do costume" são qualquer indivíduo que esteja registado nas "listas comuns" ou que tenha a "intenção de exercer uma actividade criminosa" (ver: Art. 10), como se alguém, realmente intencionado, a fosse declarar...
E nessas "listas comuns" não podem figurar cidadãos de países membros da Comunidade Europeia (idem), pois esses, ao que parece, estão acima de qualquer suspeita... Nasceram no "paraíso"!
Assim sendo, já se vê de que cor são os presumíveis potenciais criminosos a terem de ser barrados na fronteira... e repatriados aos países de origem...

E ainda se atrevem a dizer que não somos racistas...

E ainda se atrevem a dizer que todos os Homens são iguais...


[P.S.: Este Blog faz um ano hoje]

segunda-feira, janeiro 08, 2007

AZUL XXIII



Foto: Cafayate

domingo, janeiro 07, 2007

Eles andam aí...

A sofisticação empresarial chegou à pirataria informática! Há dias, recebi um e-mail com o seguinte anúncio, sob a forma de cartão:


Espionagem Eletronica - Industrial e Particular.

Trabalhamos com espionagem Industrial e particular, arquivos sigilosos, programas, dados pessoais, conversas virtuais... Para maiores informações entre em contato atravez do email decoder_private@hotmail.com


Você não receberá novos emails nossos guarde esse pois nunca saberá quando ira precisar de nossos serviços
( Não trabalhamos com grampos telefonicos)


Pelo título "Espionagem Virtual", ainda julguei, de boa-fé, tratar-se de mais um aviso dos que circulam por aí, alertando os incautos contra o perigo dos vírus ou dos hackers... Santa ingenuidade a minha! Ao que parece, trata-se de uma empresa que se dedica, nada mais nada menos, à "oferta" de serviços de espionagem informática! E fazem-se anunciar com o maior descaramento, como se vendessem vulgares chupa-chupas...
Mas atenção! Eles invadem arquivos sigilosos (ou pelo menos dispõem-se a fazê-lo), violando dados pessoais, mas não grampeiam telefones... Não deixa de ser curiosa a noção de legalidade contida neste pormenor, tendo em conta a publicidade anterior!

Acautelem-se...!

segunda-feira, janeiro 01, 2007

O Rap(to) dos cedros...

Aconteceu em Torres Vedras, mas podia ter sido noutro lado qualquer, por obra e desgraça de qualquer outra Câmara Municipal...

Chamam-lhe "requalificação urbanística", quando alguém decide cortar as poucas árvores que ainda vão sobrevivendo nas nossas ruas e jardins públicos. Desta vez, a razia deu-se numa fileira de cedros que estavam muito longe de estar secos, no jardim de uma escola primária, durante a "interrupção natalícia das actividades lectivas", vulgo férias de Natal.

Quem deu a ordem de abate dessas árvores devia estar muito preocupado com os carros dos vereadores que agora circulam ali ao lado, desde que se abriu uma passagem para uma garagem no subsolo do novíssimo edifício municipal não fosse um bogalhozito ou um galhito perversos estragar a pintura reluzente de tão distintos veículos...

Realmente, quem é que se lembrou de ter a infeliz ideia de plantar árvores mesmo ao lado daquilo que haveria de ser a entrada para a garagem da Câmara Municipal?! Ainda por cima, muitas dessas árvores foram plantadas pelas crianças dessa mesma escola num remoto "dia da árvore", muito antes de ter sido aprovado o projecto da dita garagem e do edifício. É preciso ter lata! E quem mandou as crianças elegerem essas árvores como companheiras de brincadeira e baptizá-las com nomes? Quem terá sido a infeliz professora que apoiou tal dislate?! Devia era ir já para os excedentários! Onde é que se viu deixar as crianças brincar com árvores como se fossem gente?

E agora?

Que história irão contar às crianças, quando elas voltarem das férias, para justificar o rapto dos amigos?

Talvez este texto, que recebi em mãos, de uma cidadã preocupada possa ser útil como leitura de reinício de aulas:

" A MOTO-SERRA TRABALHA

E vai uma funcionária e diz:
- Isto (?) pode cair em cima de uma criança.
E vai um funcionário e diz:
- Isto (?) só está a fazer lixo (?).

A MOTO-MATA-SERRA TRABALHA

Os pássaros aflitos, espavoridos (dezenas, centenas?), perguntam-se onde irão dormir esta noite. Está tanto frio e as outras árvores estão ocupadas. As fêmeas, um pouco mais previdentes, pensam nos ninhos da próxima primavera.

Chegam os alunos depois das férias do Natal:
- As árvores da nossa escola??
E vai a professora e diz:
- Foi um presente de Natal. O Pai levou.

A MOTO-SERRA-MATA-CEDROS TRABALHOU. UM DIA.
OS CEDROS SÃO ÁRVORES DE CRESCIMENTO LENTO...

(aconteceu em Dezembro/06, Escola Primária nº1 de Torres Vedras, também conhecida por escola do avião)

Ah! Quase me esquecia! Há alguns adultos que plantam árvores adaptadas ao clima, a pensar no futuro, quer dizer, a pensar nos que estão a crescer.
Em ti meu, a pensar em ti, 'tás a ver?
Outros têm o hábito de lhes chamar alarmistas e radicais. Ganda gozo! Radical o gajo que põe uma semente num buraco?! Beca estranho! Radical é o gajo que faz desporto para ricos. Não, man. Radical é o gajo que pega na moto-serra e mata uma árvore de 50 anos em menos de 50 minutos. Quanto custa uma moto-serra? Esse também é rico? Dãã... claro que não. Esse é só radical. A máquina é comprada com o dinheiro da malta toda. Meu também? Claro meu, teu! Dâ-se! Já 'tou baralhado com a puta da conversa. É o Q.I. que 'tá a flip+ar. Lê tudo outra vez, mais devagar. 'Tás t'a passar meu? Ganda seca! P'ra quê? Sei lá, faz um rap e vai cantar p'rós putos, man. Os gaijitos não entram em stress. Fónix, ganda panca, a tua. Quê? Achas que os putos da primária nunca ouviram falar em ecologia e nessa treta toda? Ya, tou a ver... vão precisar de apoio psicológico. Ya meu, é uma cena bué marada: É A CENA / OBSCENA / DESTA SOCIEDADE / E OS PUTOS / INDEFESOS / NÃO TÊM IDADE / P'RA ENTENDER / PERCEBER / COMO É QUE VÃO RESPIRAR / E SE A MALTA NÃO PROTESTA / É DESTA / QUE OS PUTOS VÃO FLIPAR / NA PRIMÁRIA / SECUNDÁRIA / E ATÉ NO INFANTÁRIO / É EM CASA / É NA ESCOLA / ESTA MERDA 'TÁ TODA AO CONTRÁRIO / PEGA EM MIM / 'BORA LÁ/ PEGA EM TI / 'BORA LÁ / PEGA EM NÓS, PEGA EM VÓS, PEGA NELES / 'BORA LÁ / PRONOMES PESSOAIS TÊM A VER COM PESSOAS / ATITUDES RADICAIS TÊM A VER COM PESSOAS / QUESTÕES AMBIENTAIS TÊM A VER COM PESSOAS / O FUTURO DOS MAIS NOVOS TEM A VER COM PESSOAS / 'BORA LÁ / 'BORA LÁ / 'BORA LÁ "
(Citação de um texto de Ana Matheote).

... E o mais paradoxal disto tudo é o facto de esta cidade exibir como imagem de marca o slogan "Torres Vedras - Cidade Verde"...

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