25 de Abril de 1974
A morte
Saiu à rua
Num dia assim
Naquele
Lugar sem nome
Para qualquer fim
Uma
Gota rubra
Sobre a calçada
Cai
E um rio
De sangue
Dum peito aberto
Sai
O vento
Que dá nas canas
Do canavial
E a foice
Duma ceifeira
De Portugal
E o som
Da bigorna
Como
Um clarim no céu
Vão dizendo
Em toda a parte
O Pintor morreu
Teu sangue,
Pintor, reclama
Outra morte igual
Só olho
Por olho e
Dente por dente
Vale
À lei assassina,
À morte
Que te matou
Teu corpo
Pertence à terra
Que te abraçou
Aqui
Te afirmamos
Dente por dente
Assim
Que um dia
Rirá melhor
Quem rirá
Por fim
Na curva
Da estrada
Há covas feitas no chão
E em todas
Florirão rosas
De uma nação
Zeca Afonso - Canção dedicada ao escultor Dias Coelho, assassinado pela PIDE em 1961.
- Podemos estar em crise, podemos ser o país mais atrasado da Europa, podemos ter um povo inculto, governantes ineptos, oportunistas, caciques, etc., mas ao menos podemos reclamar disso tudo sem morrer!
Só por isso valeu a pena ter acabado a ditadura. O resto é uma questão de tempo e mais dez ou vinte gerações de aprendizagem da democracia e do civismo. Há-que ser optimista!
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