quarta-feira, maio 31, 2006

A violência nas escolas portuguesas

A RTP, num ecercício de serviço público, divulgou ontem uma reportagem arrasadora sobre a violência nas escolas portuguesas.

Não a vi na totalidade, mas vi o debate e os excertos que iam aparecendo. Infelizmente, casos desses existem e não são apenas numa escola, embora - para grande alívio nosso - ainda não representem a maioria das escolas deste país.
Pela parte que me toca (dou aulas há 16 anos), embora já tenha deparado com algumas situações de indisciplina, nenhuma delas atingiu nada que se parecesse com o observado nos fragmentos que vi da reportagem. Sorte minha? Talvez, mas também nunca dei aulas na periferia das grandes cidades, nem em escolas de bairros problemáticos...

Temos de perceber que há zonas onde se concentram graves problemas sociais e situações de grande carência. Não quero, com isto, desculpabilizar os alunos indisciplinados e violentos (quando tive de organizar processos disciplinares, fi-lo de forma convicta e assumida). Pretendo apenas situar as coisas no seu contexto.
Se formos ver quem serão os pais dessas crianças e adolescentes, muito provavelmente encontramos famílias disfuncionais, com problemas de toxicodependência, alcoolismo, criminalidade ou simplesmente de pobreza material ou cultural. A probabilidade de serem pais ausentes - seja por negligência ou contingências várias - é enorme, embora também se possam encontrar casos de delinquência juvenil em famílias modelares e preocupadas com a educação!
Educar um filho não é o mesmo que instalar um programa de computador. Por vezes há resistências (por isso não concordei com a opinião do psicólogo que falou, que atribuiu exclusivamente aos pais a responsabilidade do comportamento daqueles alunos). Aquilo que se viu, na reportagem parece corresponder a situações - limite para as quais se conjugam uma série de factores em simultâneo.

Além do contexto deficiente, em termos sociais e familiares que referi acima, temos problemas que resultam do próprio processo de crescimento - num mesmo ambiente podemos encontrar miúdos problemáticos e outros não. A juntar a isto, os professores, na sua formação, não recebem preparação eficaz para lidar com casos de violência explícita. Os exemplos de indisciplina que se apresentam para reflexão, em bibliografia pedagógica, nada se comparam com o que se viu na reportagem.
Por último, a responsabilidade do Ministério da Educação também tem sido grande na proliferação destes problemas, pelo constante "sacudir a água do capote", atirando para as escolas legislação que obriga a uma carga burocrática elevada para se punir casos de indisciplina - embora eu discorde da posição de certos professores que desistem à primeira, evocando a inutilidade dos processos indisciplinares (às vezes resultam).

O exemplo retratado na reportagem não representa a generalidade das escolas, embora seja, com certeza, um grave problema que tem de ser resolvido. E uma das formas poderia passar pela video-vigilância das aulas (já contestei esta medida, por julgá-la invasiva, mas agora parece-me necessária), para que não se verifiquem, no decurso de processos disciplinares, situações em que a turma contraria as informações dadas pelos professores na participação de ocorrências - gerando um impasse difícil de contornar. Outra forma poderia ser uma presença mais eficaz dos agentes do programa "Escola Segura" nas escolas onde existem casos de verdadeira delinquência. Mas é óbvio que isso são também remendos, quando o problema de base reside nas estruturas sociais...

E quando o M.E. se prepara para envolver os pais na avaliação dos professores, faz sentido questionarmo-nos: que espécie de pais nos vão avaliar? Será dado o mesmo peso às avaliações de encarregados de educação realmente preocupados e aos que se demitem? Poderá um professor ser penalizado na sua avaliação quando se depara com alunos delinquentes, como os que se viram na reportagem? E quem avalia os encarregados de educação? Que penalidades sofrerão aqueles que faltarem às reuniões e passarem um ano inteiro - ou mais - sem falar com os directores de turma?

Resta saber se aqueles alunos que apareceram na reportagem serão do turno da manhã ou do da tarde, pois, segundo uma "brilhante" alegação da senhora ministra, esta segunda-feira, os da manhã são sempre melhores. Será por irem ainda a dormir para as aulas?

5 Comments:

At 4:10 da tarde, Blogger Efemerum said...

Olá Lena.

Agradeço-te a visita.
Voltarei mais tarde para te ler com calma porque já vi que dissertas sobre questões fundamentais.

quanto ao vídeo claro que o podes usar. não é meu.


Beijinhos!

 
At 3:26 da manhã, Blogger lena b said...

Obrigada pela visita.

Mas quanto ao vídeo, já tentei colocá-lo e não funcionou. Devo ter feito mal alguma coisa. Ainda anto a tentar ultrapassar a minha iliteracia técnica... ;)
Se puderes explicar-me como se faz, agradecia-te muito.

Beijinhos

 
At 8:51 da tarde, Blogger Efemerum said...

Lena só agora vi este teu pedido...as minhas desculpas. Reparo que não tens mail e aqui não consigo colocar o código.

Se continuares interessada escreve-me para o mail que está no meu perfil.

 
At 10:58 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Lena: Um dos alunos que foram entrevistados naquela reportagem, alguns anos foi aluno "da manhã" (como se houvesse só um turno! Três dias por semana têm aulas nos dois turnos) e outros anos foi aluno "da tarde". Os primeiros anos foram sempre em turmas "da manhã"...o resultado foi sempre igual, claro. Já tive turmas "da manhã" muito más e turmas "da tarde" muito boas...só quem não está ou não quer é que não sabe.

 
At 12:56 da manhã, Blogger lena b said...

Maria:

Obrigada por teres passado por cá, apesar de não ter tido muito tempo, ultimamente, para actualizar o blog.

Pois, só quem não vai às escolas pode pensar que ainda existem turnos da manhã e de tarde, com os currículos actuais que, além das disciplinas "clássicas" contemplam estudo acompanhado, área de projecto, educação cívica, educação artística...
Este ano as minhas turmas diurnas começavam todas as aulas às 8,30h o que, naturalmente, faz delas "turmas da manhã" - mas as minhas aulas a essas turmas eram sempre à tarde...
Já não faz sentido nenhum essa questão dos turnos... mas temos uma ministra da educação que não sabe disso. Típico!

 

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