quarta-feira, janeiro 18, 2006

No meu filho ninguém toca!

"O Tribunal de Torres Vedras decretou hoje a prisão preventiva para o homem que segunda-feira baleou um militar da GNR, deixando-o gravemente ferido, no lugar de Adega, concelho do Sobral de Monte Agraço." - Sic Online

No início desta semana fomos todos surpreendidos por mais um ataque de um cidadão às forças que desempenham o papel de instaurar e manter a ordem. Os motivos que levam a este tipo de crimes são os mais variados, mas gostaria de tentar perceber os deste em particular. Segundo foi divulgado, o alvo da acção da GNR nem era o indivíduo que efectuou o disparo e se barricou, mas o seu filho, cujo processo decorre em tribunal. A questão parece prender-se, assim, com uma tentativa desastrada, por parte de Manuel Cardoso, de proteger a sua cria a qualquer preço...

Quantas vezes não nos deparamos com situações que, não tendo o mesmo desfecho, se configuram semelhantes nas intenções e no sentido da acção? Por exemplo, nas nossas escolas, quantos conflitos não se verificam, entre pais e professores, porque os “tenros rebentos” não respeitaram as regras vigentes e, por isso, foram punidos, ou porque não estudaram o suficiente e tiveram má nota?
Entre o pai castigador e autoritário e o pai protector e permissivo há um leque enorme de possibilidades, talvez mais úteis à formação dos indivíduos, do que estes dois extremos. Defender a cria e prepará-la para a vida é dever de todos os animais, sendo que nos humanos esta tarefa se desenrola por muito mais tempo, se for executada dentro das normas aceitáveis. Negligenciar esses cuidados constitui crime punível por lei. Mas o que levará um(a) pai/mãe a defender a cria para além do razoável, privando-a de experimentar eventuais sanções decorrentes da sua acção? Será o facto de essas sanções serem aplicadas por terceiros, estranhos ao grupo familiar? Será o desrespeito dos próprios progenitores pelas regras vigentes, privilegiando a atitude do "salve-se quem puder", ou "vença quem for mais espertalhão"?

Ninguém ignora que muitas crianças gostam de testar as regras e verificar até que ponto elas podem ser flexíveis. No caso dos pequenos furtos, por exemplo, o que as move, muitas vezes, é a adrenalina decorrente da situação de perigo potencial em que se colocam, por estarem a fazer uma coisa proibida. E ninguém ignora que, nessas situações, nada ensina mais do que obrigá-los a devolver o que furtaram e pedir desculpa. E não é nada fácil, para as crianças e adolescentes, experimentar a vergonha de confessar o seu pequeno crime perante a vítima, mas é, decerto, uma lição que não esquecerão nunca, precisamente porque doeu no orgulho e "abanou" a auto-imagem.

Não será a super-protecção, também, uma forma de negligência?

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