domingo, janeiro 15, 2006

E o engano de Kant...

“O conceito do direito mundial de cidadania não os protege (os povos) contra a agressão e a guerra, mas a mútua convivência e proveito os aproxima e une. O espirito comercial, incompatível com a guerra, se apodera tarde ou cedo dos povos. De todos os poderes subordinados à força do Estado, é o poder do dinheiro que inspira mais confiança e por isto os Estados se vêm obrigados - não certamente por motivos morais- a fomentar a paz...” - I.Kant - A paz perpétua, 1795

A realidade actual não podia ser mais adversa a este postulado filosófico, pois está cabalmente demonstrada não só a total compatibilidade entre o "espírito comercial" e a "guerra", como, em muitos casos, uma relação de causa-efeito entre o primeiro e a segunda. Basta observarmos a proliferação de conflitos bélicos de grandes proporções, resultantes da exploração e comércio do petróleo e outras matérias primas, dos conflitos sociais e desastres ecológicos resultantes da "deslocalização" de empresas para zonas onde a produção sai mais barata, das manipulações das opiniões públicas nos países ditos "desenvolvidos" a fim de se legitimarem intervenções militares mal fundamentadas e o fechar de olhos aos conflitos em África, a manobras oportunistas, à "cleptocracia" (não exclusiva de certos líderes africanos), etc, etc.

Ora, se quanto a esta parte a previsão de Kant se revelou desastrosa, resta-nos, numa perspectiva optimista, esperar que a primeira afirmação também se revele falsa e que o "conceito do direito mundial de cidadania", a ser largamente difundido por via de uma real globalização (não a actual, que é parcial e predatória, mas uma em que todos os cidadãos de todos os países do mundo tenham, realmente, os mesmos direitos) venha, de facto, a proteger "(os povos) contra a agressão e a guerra"...

O pior é se ele, nesse ponto, acertar...

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