domingo, fevereiro 04, 2007

A propósito da condição feminina...

Um artigo publicado na p. 2 do jornal O Progresso, Luanda, 26 de Junho de 1913, na Secção Literária, diz o seguinte [manteve-se a ortografia original]:

A Mulher e a Sua Emancipação

A mulher tem sido tratada, desde todos os tempos, como um ser inferior; tem sido sempre aviltada e escravisada pelo homem. Foi escrava humilde e paciente, foi objecto de prazer e de vaidade, de luxo e de ambições, e ainda hoje, na sua grande maioria é tudo isto. Por tudo tem passado, e por tudo passa, por todas as baixezas e imbecilidades, por todas as vergonhas e crimes.
Nos povos primitivos eram as mulheres obrigadas a trabalhar para o sustento dos homens; estes só se ocupavam da caça e da guerra.
Nas civilizações egipcia, grega e romana, a sua condição em nada sobrelevava á dos povos da antiguidade.
A propria ciência por muito tempo sustentou que a mulher era um ser inferior; e ainda hoje é considerada, pela grande maioria dos homens, como incapaz de progredir, resumindo-se os seus fins na vida em procrear.
Verdade seja que essa maioria nem sempre se compõe de homens cultos.
E não houve religiões que melhorassem a sua situação. O cristianismo, que por muito tempo predominou como de todas a possuidora da mais sã moral, sempre a classificou de «a eterna tentadora», a «porta do inferno», e na sua fantasia bíblica é ainda ela quem pratica o crime de desobediencia e leva o homem tambem a cometer esse mesmo crime.
O budismo tem-na em conta de uma creatura sem alma e os seus sectarios obrigam a esposa a suicidar-se sobre o cadaver do marido.
O mesmo acontece com o mahometismo que a reputa como um objecto de serviços e de prazeres.
Emfim a mulher foi sempre uma martir do egoismo, da brutalidade e da estupidez do homem.....» (Antonieta Campos)


Confrontando este artigo com a situação actual da mulher, não apenas em Portugal mas no mundo, as perguntas impõem-se:

Estarão ultrapassados, hoje, os problemas e os sentimentos expostos por Antonieta Campos há mais de cem anos, ou nem por isso? E porquê? Que andou o ser humano a fazer durante todo este tempo?

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